Tiago

Autoria
A própria epístola nos informa sobre o nome do seu autor: Tiago (1.1). Esse nome, para a igreja primitiva, sempre esteve associado ao filho mais velho de José e Maria, e, portanto, um dos irmãos da grande família biológica do Senhor Jesus (Mt 13.55,56).Na época da Reforma, entretanto, Lutero questionou a canonicidade deste livro, por sua ênfase ao caráter ilibado, atitude santa, e na prática de boas obras, num aparente contraste com a doutrina paulina sobre a justificação pela fé. Mais tarde, entretanto, a Igreja percebeu que o livro, na verdade,se preocupa com os aspectos práticos da conduta cristã e revela o modo pelo qual a fé opera na vida cotidiana de cada crente em Cristo. Durante o período da Reforma, foram cogitados alguns outros possíveis autores para esta carta,como Tiago, filho de Zebedeu, irmão de João, mas sua morte prematura, vítima de martírio por sua fé sincera e valorosa no Senhor, por volta do ano 44 d.C., é muito anterior à publicação da obra,tirando-lhe qualquer possibilidade efetiva de ter sido o autor. Além disso, uma série de características internas e externas solidificadas ao longo dos últimos séculos, mediante descobertas arqueológica se melhor exegese dos manuscritos gregos, apontam o irmão do Senhor como autor da carta que leva seu nome. Tiago, em sua teologia e prática doutrinária, demonstra considerável semelhança com o ensino de Jesus Cristo. Uma comparação entre esta carta e o conhecido Sermão do Monte revela mais de dez evidentes paralelismos. Mediante orientação do Espírito Santo, Tiago foi escolhido como moderador da Igreja em Jerusalém, logo após o Pentecostes (At 15). Ao escrever sua epístola, conferiu ao texto um caráter de elevada autoridade espiritual sem ser pernóstico ou presunçoso. Mesmo não apresentando qualquer forma apologética explícita, sua carta, quando dividida nos 108 versículos que a compõem, revela nada menos do que 54 mandamentos. Tiago também foi um dos poucos a quem Jesus Cristo apareceu logo após a ressurreição (1Co15.7). O apóstolo Paulo o considerou “sustentáculo” (coluna) da Igreja (Gl 2.9), tanto que, em sua primeira visita a Jerusalém, após sua conversão, procurou reunir-se com Tiago (Gl 1.19), gesto que repetiu em sua última visita à Cidade Santa (At 21.18).Quando Pedro foi liberto da prisão, logo pediu que os amigos comunicassem o fato a Tiago (At12.17). Portanto, a importância da pessoa e da posição de Tiago ganhou tal notoriedade que Judas,o discípulo autor da missiva bíblica que leva seu nome, julgou necessário apenas se apresentar como “irmão de Tiago” (Jd 1.1), levando em consideração o prestígio e a boa fama do irmão do Senhor e líder da Igreja em Jerusalém, o qual foi martirizado por causa de sua fé cristã, no ano 62 d.C.
Propósitos
Tiago preocupou-se em escrever uma obra de natureza claramente judaica, porém realçando o cristianismo vital, marcado pela fé que age, que ganha expressão e pleno significado em atitudes e ações práticas em nome de Cristo. Seu texto fluido, severo, mas informal, é delicadamente construído (em excelente grego) à semelhança dos escritos sapienciais do Antigo Testamento, trazendo à memória do leitor os sábios conselhos bíblicos de Provérbios. O tema central de Tiago é a “religião pura” (1.27), fé que é testada por meio das muitas provas,tentações e aflições pelas quais o verdadeiro povo de Deus passa todos os dias. Essas provações positivas e negativas do cristianismo puro revelam nossas contrastantes qualidades espirituais e carnais. A carta apresenta exemplos sobre a tentação útil e a absolutamente maléfica, sobre a fé verdadeira e a reprovável, sobre o ser carnal e o ser espiritual. O alvo de Tiago é oferecer à Igreja uma correta e concreta instrução quanto à atitude ética dos crentes. Comparado ao apóstolo Paulo,Tiago demonstra pouco interesse em doutrina sistemática e formal, embora a carta não esteja isenta de profundas e significativas afirmações teológicas (1.12; 2.1-19; 3.9; 5.7-14). Tiago procura tratar dos principais assuntos do cotidiano dos crentes por meio de máximas (provérbios) e pérolas de sabedoriaTiago escreve como um pastor prático, preocupado com o bem-estar espiritual dos seus filhos na fé, livre dos costumeiros e extenuantes embaraços teológicos. O primeiro capítulo, por exemplo, introduz e apresenta uma sinopse dos tópicos que serão tratados de forma mais ampla e profunda nos capítulos seguintes.
Data da primeira publicação
Tiago endereça sua carta primeiramente “às doze tribos dispersas entre as nações” (1.1), ou seja,aos judeus convertidos ao senhorio de Cristo, provenientes da igreja primitiva de Jerusalém, os quais, logo depois do martírio de Estevão, se dispersaram por toda a região da Fenícia, por Chipre e pela Antioquia da Síria (At 18.1; 11.9). Isso nos ajuda a compreender a natureza visivelmente judaica da carta, como o uso do título hebraico de Deus em grego kyrios sabaoth, que significa “Senhor dos Exércitos” (2.1; 5.4-8), a expressão hebraicas ynagoge (“assembleia” em grego), em referência ao tradicional lugar de reunião dos cristãos (2.2), bem como a quantidade de referências às provas,perseguições, opressões, e seu conhecimento íntimo dos leitores mais diretos.Portanto, todos esses fatores somados à natureza eminentemente judaica da carta, e à demonstração de uma ordem eclesiástica simples – os líderes da comunidade cristã são designados apenas como “presbíteros” e “mestres” (5.14; 3.1) – nos levam a entender que Tiago a redigiu quando a Igreja ainda vivia sob uma acirrada influência judaica por volta do ano 49 d.C.

Esboço geral de Tiago
B. A provação que deve ser recebida com alegria (1.2)
C. Deus usa as aflições para aperfeiçoar o caráter (1.3)
D. É vital a obediência ao Espírito Santo (1.4)
E. O Espírito Santo conduz à verdadeira sabedoria (1.5)
F. Receber o dom da sabedoria depende da fé (1.6-7)
G. A falta de fé expõe o Eu carnal e anula o Espírito (1.8)  
H. Os pobres devem ser ricos em Cristo (1.9-11)
I. A importância da atitude pessoal na provação (1.12)
J. Deus não empurra ninguém para o Mal (1.13)
K. O desejo egoísta catalisa o poder do Mal (1.14-16)
L. O ponto de partida de toda a bênção (1.17)
M. Na obra redentora de Cristo: seu amor leal (1.18)
N. O cristão sincero age com sabedoria (1.19-21)
O. Um coração santo produz atos de justiça (1.22-27)
2. Provas da religião verdadeira e pura (2.1 – 5.20)
A. Prova da submissão do Eu à direção de Cristo (2.1-13)
B. Prova da fé que age em favor do próximo (2.14-26)
C. Prova do amor cristão como estilo de vida (3.1-18)
D. Prova da vitória do Espírito sobre o Eu carnal (4.1-12)
E. Prova da falibilidade da direção do Eu carnal (4.13-17)
F. Prova da administração espiritual dos bens (5.1-6)
G. Prova da paciência sob as opressões da vida (5.12)
H. Prova da perseverança na oração com fé (5.13-20

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