Hebreus


Autoria
Durante aproximadamente mil e duzentos anos (entre o ano 400 e 1600 d.C.), esse verdadeiro tratado teológico aos hebreus (judeus) foi chamado de “Epístola de Paulo aos Hebreus”, muito embora a igreja primitiva nunca houvesse lhe atribuído tal autoria. Orígenes, um dos pais da igreja do terceiro século costumava dizer: “somente Deus sabe quem escreveu Hebreus”. A primeira edição britânica da Bíblia King James, em 1611, assim como traduções posteriores para outras línguas, incluindo a portuguesa, ainda abriam o livro de Hebreus com esse título. Coma Reforma, entretanto, análises exegéticas mais aprofundadas começaram a ser implementadas; e com as grandiosas descobertas bíblicos arqueológicos, ocorridas especialmente nos séculos XIX e XX, convencionou-se entre os biblistas de todo o mundo que o mais correto seria manter o mistério,que os próprios originais fazem, em relação à autoria dessa obra.Desde a igreja primitiva, e na época dos pais da igreja, já havia uma inquietação em relação a esse assunto. Tertuliano, por volta do ano 200 d.C., chega a se referir a esse livro como “uma epístola aos hebreus com o nome de Barnabé”. Já na Reforma, foi Martinho Lutero quem primeiro, ao dedicar-se à exegese dos manuscritos gregos que dispunha, sugeriu a autoria de Apolo. Esses autores propostos são, de fato, grandes possibilidades, além de Silas, Áquila, Clemente de Roma e o casal Áquila e Priscila.Barnabé não fazia parte do grupo de apóstolos, no sentido restrito da expressão, mas tinha plena autoridade espiritual a ele conferida pelo comitê apostólico e diretamente por Paulo e Pedro. Foi um intelectual respeitado pela Igreja e cristão hebreu profundo conhecedor do Antigo Testamento. Barnabé, portanto, cumpre bem as características necessárias como potencial autor dessa carta aos Hebreus. Era judeu, da tribo sacerdotal de Levi (At 4.36), e tornou-se discipulador e amigo de Paulo,com quem serviu por muito tempo como companheiro de ministério e missões. Foi o próprio Espírito Santo quem indicou para a Igreja, em Antioquia, que Barnabé e Paulo deveriam ser enviados para agrande obra de evangelização ocorrida durante a primeira viagem missionária (At 13.1-4). Apolo é um candidato considerado ainda mais indicado por grande parte dos estudiosos modernos.Lucas nos revela que “...chegou a Éfeso um judeu, natural de Alexandria, chamado Apolo, homem eloquente, e que acumulava grande experiência nas Escrituras”(At 18.24). Apolo também era judeu convertido ao Senhor Jesus, pelo batismo de João, e dotado de admirável capacidade oratória e intelectual. Paulo tinha grande respeito e amizade por Apolo, com quem realizou importante obra evangelística em Corinto (1ªCo 1.12; 3.4-22).
Propósitos
Muito mais fácil de determinar do que a autoria de Hebreus, mas não menos difícil de compreender em toda a sua amplitude, são os propósitos e o conteúdo temático desta carta endereçada especialmente aos judeus (hebreus) convertidos a Cristo, que faziam parte da Igreja na Itália (13.24;Rm 15.26), mas que estavam sendo tentados a voltar aos rudimentos da Lei e do judaísmo místico. Alguns mestres judeus estavam pregando uma doutrina herética que não combatia diretamente a mensagem cristã, mas procurava judaizar o evangelho (Gl 2.14; At 6.7).O prefácio do livro já afirma categoricamente o caráter distintivo do Filho de Deus. Cristo é antes da História, e a própria razão da História. Jesus é o agente que produz a única plena purificação dos pecados derivados do coração humano, da Queda (Gn 3), e cometidos na História. Jesus Cristo é a suprema revelação de Deus (1.1-3).Portanto, o tema central de Hebreus é a supremacia e suficiência de Cristo, completando e ultrapassando em muito a revelação preliminar e limitada concedida aos homens por meio do Antigo Testamento. Por este motivo, todas as revelações, promessas e profecias do AT são perfeitamente cumpridas somente na “Nova Aliança” ou “Novo Testamento”, nos quais a pessoa de Jesus, por causa da sua obra redentora, é o único e suficiente Mediador entre Deus e a humanidade. Muito superior aos anjos, a Moisés (mediador da Antiga Aliança) e a todos os profetas do AT (1.4-14). Segundo vários exegetas e estudiosos dos manuscritos gregos de Hebreus, esta carta poderia também serdesignada como “O Livro do Melhor”, na medida em que as expressões que significam “melhor” e“superior” aparecem mais de 15 vezes no texto original dessa obra.O sacerdócio de Cristo, semelhante a Melquisedeque (Sl 110.4) – o sacerdote eterno e ilustração do Messias, é melhor do que o atônico, e superior a toda geração dos levitas, pois a vida do Cristo é indestrutível e perene. Jesus é o único que ao mesmo tempo é o Sacerdote, que é a própria Oferta sacrificial,e seu sangue valida todo o Novo Testamento que é o “Pacto” final e eterno (4.14 – 10.18).Os crentes são movidos pela comunhão restabelecida com Deus Pai em Cristo Jesus, e pela fé presente, conscientes das bênçãos infinitas que os aguardam no futuro (10.19 –12.29). A Cruz do Senhor como o grande altar do cristão, e a ressurreição do Sacerdote, perfazem a base jurídica da ação salvadora e redentiva de Deus (13.1-25).
Data da primeira publicação
Os mais atuais e consistentes estudos históricos e arqueológicos sobre a datação de Hebreus apontam para alguma época, no ano 70 de nossa era, imediatamente anterior ao massacre e destruição da cidade de Jerusalém, pelos exércitos romanos comandados por Tito. As principais justificativas, neste sentido, levam em consideração que, se essa carta tivesse sido escrita após esta data, com toda a certeza, o autor teria mencionado ou feito alguma alusão a uma das mais sanguinárias chacinas ocorridas em Jerusalém, em toda a história da humanidade, envolvendo a completa destruição do suntuoso templo e do próprio sistema sacrificial judaico. Por outro lado, o autor ao escrever os originais em grego, emprega sistematicamente o tempo verbal presente quando fala sobre o templo e se refere às atividades sacerdotais praticadas antes da invasão romana e jamais retomadas até nossos dias (5.1-3; 7.23,27; 8.3-5; 9.6-25; 10.1-11; 13.10,11).
Esboço geral de Hebreus
1. A superioridade universal e infinita de Jesus, o Cristo (1.1 – 4.16)
A. Jesus é incomparavelmente superior a todos os profetas (1.1-4)
B. Jesus é superior a todos os seres angelicais (1.5-14)
C. Jesus é superior ao mediador do AT: Moisés (3.1-6)
D. Jesus Cristo, o filho de Deus, é o alvo maior da fé (3.7 –4.16)
2. A superioridade inquestionável do sacerdócio do Senhor (5.1 – 10.39)
A. A superioridade das qualificações do Senhor Jesus (5.1-10)
B. Sermão repetitivo para os tardios de entendimento (5.11 – 6.20)
C. Jesus é superior em sua própria Ordem Sacerdotal (7.1 – 8.13)
a) Melquisedeque como ilustração do Messias (7.1-3)
b) A superioridade do Sacerdote eterno (7.4 – 8.13)
D. Jesus é superior por causa de sua obra vicária (9.1 – 10.18)
E. Outro rápido sermão de chamamento à fé (10.19-39)
3.A superioridade da pessoa e do poder de Jesus Cristo (11.1 – 13.19)
A. Todo poder é outorgado aos sinceros crentes no Senhor (11.1-40)
B. O poder da fé no dia-a-dia dos cristãos e da Igreja (12.1-29)
C. O infinito e superior poder do amor leal de Cristo (13.1-19)
4. Saudações e bênção final (13.20-25).

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