Desde
os primórdios da Igreja, a autoria de 1ª Pedro é atribuída ao
apóstolo Pedro, como bem indica o próprio prefácio da epístola
(1.1). Os pais da igreja foram unânimes ao reconhecerem a
canonicidade do texto sagrado e a autoria de Pedro. Por volta do
ano 95 d.C., Primeiro Clemente revela ter bom conhecimento do
conteúdo desta epístola. Mais tarde, Irineu (140-203 d.C.),
Tertuliano (150-222 d.C.), Clemente de Alexandria (155-215 d.C.) e
Orígenes (185-253 d.C.) confirmaram a aceitação universal dessa
obra de Pedro, assim como Policarpo, que fora discípulo do apóstolo
João, já havia feito uso de 1ª Pedro para produzir sua carta
orientadora aos cristãos de Filipos, por volta do ano 140 d.C. O
grande Eusébio demonstra que o texto de 1ª Pedro havia conquistado,
por volta do século IV, completa aquiescência e respeito canônico
da Igreja em muitas partes do mundo civilizado da época. A
partir da Reforma, recrudesceram alguns questionamentos quanto à
autoria de 1ª Pedro. Alguns críticos alegaram que a qualidade
literária e gramatical do grego idiomático empregado nesta carta
excede em muito as capacidades naturais do apóstolo Pedro, um
simples pescador, com baixo nível de instrução formal, originário
da Galileia. Contudo, temos que considerar que, na época de
Pedro, a mesma da formação da Igreja, passou a ser comum –
no mundo mediterrâneo e palestino – se falar três
idiomas, notadamente o aramaico, o hebraico e o grego. O fato de
não ser escriba de formação, certamente não o impediu de ter se
esmerado na língua grega, a fim de intensificar seu profícuo
ministério. Além disso, Pedro nos informa claramente que contou com
a ajuda de Silvano (forma latinizada do nome aramaico Silas ou
Saul).No original grego, Pedro usa uma expressão que claramente
comunica que Silvano não somente foio portador da carta, mas que o
“ajudou” (literalmente: “por meio de”) a redigi-la (5.12).
Assim como Paulo e Pedro, era comum os mestres contarem com a
competente colaboração de um amanuense, especialista em
gramática e caligrafia em grego (língua oficial para relações
internacionais), para uma boa redação dos seus livros, cartas e
missivas, todos reconhecidos como documentos de máxima importância
na época (At 15.22-29).
Propósitos
O
apóstolo Pedro define bem o tema central de sua breve carta aos
cristãos judeus e gentílicos dispersos (espalhados) por grande
parte da Ásia Menor: “a verdadeira graça do Senhor sob a qual os
crentes devem viver firmes” (5.12).Algumas dessas pessoas estiveram
com Pedro, em Jerusalém,no dia do Pentecoste (At 2.9-11). Paulo
também já havia pregado e discipulado em algumas dessas
províncias (At 16.6; 18.23; 19.10,26). Pedro, então, usa a situação
de dispersão e temporalidade social e política desses irmãos para
falar da peregrinação cristã sobre a terra e alertar seus “filhos
na fé” para o fato de que os crentes em Cristo são
verdadeiros cidadãos do céu e, assim,devem se comportar enquanto
durar sua jornada neste mundo (1ªCr 29.15; Sl 39.12; Hb 13.14).Mesmo
considerando a brevidade desta santa missiva, somos contemplados com
uma série de princípios doutrinários e sábios conselhos práticos
sobre a vida diária do cristão que permeiam quase toda a carta
(1.13 – 5.11).
Data
da primeira publicação
É
o próprio Pedro quem nos revela que estava na Babilônia quando
produziu sua primeira carta(5.13). Segundo os mais renomados
biblistas, historiadores e arqueólogos, o apóstolo Pedro, assim
como João no Apocalipse e vários outros autores da época (Ap
17.9,10), usou um nome enigmático, conhecido entre seus leitores,
para identificar a cidade de Roma, centro político e militar do
mundo naquele momento histórico. A perseguição ideológica era
absolutamente arbitrária, autoritária, inescrupulosa e violenta. Ao
menor sinal de crítica ou rebelião contra a figura divinizada do
imperador romano, ou em relação ao sistema vigente, os acusados
eram sumariamente presos, torturados e,muitas vezes, crucificados com
requintes de crueldade.A
tradição e a documentação histórica disponível, hoje, vincula o
apóstolo Pedro, especialmente
na
parte final de sua vida, à antiga e grande cidade de Roma, onde
o apóstolo escreveu sua epístola por volta do ano 65 d.C.,
levando em consideração as obras conhecidas de Paulo naquele
momento,especialmente a carta aos Romanos, bem como a epístola
anônima aos Hebreus.
Esboço
geral de 1ª Pedro
1. Saudação
apostólica de Pedro aos peregrinos em Cristo (1.1-2)
2. A
Graça da segurança que o crente tem no Senhor (1.3-12)
A.
Doxologia Trinitária (1.3-9)B. A Lei, os Profetas e o
Evangelho (1.10-12)3. A Graça de viver sabiamente em Cristo
(1.13 – 2.10)
A.
Uma vida santificada (1.13-16)
B. Uma
vida de profundo respeito a Deus (1.17-21)
C. Uma
vida que expresse o amor divino (1.22-25)
D. Uma
vida que amadurece espiritualmente (2.1-10)
4. A
Graça de aprender a viver em submissão (2.11 – 3.12)
A. A
Deus na pessoa de seu Filho Jesus Cristo (2.11-12)
B. Aos
governos das nações (2.13-17)
C. Aos
senhores e patrões (2.18-25)
D. Às
esposas, aos maridos e ambos ao Senhor (3.1-12)
5. A
Graça de passar por sofrimentos firmes na fé (3.13 – 4.19)
A. Coisas
ruins também acontecem aos bons (3.13 – 4.6)
B. Como
agir diante das crises e sofrimentos (4.7-19)
6. A
Graça de servir a Deus, aos irmãos e ao mundo (5.1-11)
7. Reforço
do tema e saudações finais (5.12-14).