Apocalipse

Autoria
Como já vimos no Evangelho segundo João e em suas cartas às igrejas da Ásia, o profeta e autor do Apocalipse (22.9), o mais enigmático e curioso livro da Bíblia é do apóstolo João, filho de Zebedeu e Salomé, uma família abastada da Galileia (Mc 15.40,41), conhecido como “o discípulo a quem Jesus amava” (Jo 21.20-24). Talvez isso tenha deixado uma ponta de inveja em muitos falsos seguidores do cristianismo, a ponto de séculos mais tarde brotar maldosamente, da parte de alguns críticos, certas calúnias questionando a sexualidade de João. Entretanto, em sua época e por todas as igrejas da Ásia Menor, ele notabilizou-se por sua bravura e masculinidade, vindo a ser conhecido como “filho do trovão” (Mc 3.17). João teve um importante papel na obra da igreja primitiva em Jerusalém (At 3.1; 8.14; Gl 2.9). Em quatro ocasiões, o autor do Apocalipse tem o cuidado de se apresentar como João (1.1,4,9; 22.8). Judeu e versado nas Escrituras, alimentava viva e  contagiante a esperança de que a verdade e a fé cristã não demorariam a ver a glória do triunfo eterno sobre as momentâneas e poderosas forças de Satanás em plena atuação no mundo. Por volta do ano 135 d.C., Justino Mártir, e logo depois Irineu (180 d.C.), citam o livro do Apocalipse em seus estudos, em alguns trechos, palavra por palavra e, indiscutivelmente, atribuem a autoria do livro sagrado a João, o apóstolo de Jesus Cristo. No século II, entretanto, um bispo africano denominado Dionísio fez um longo estudo comparativo entre a linguagem, o estilo e a teologia aplicada ao livro do Apocalipse, e as demais obras do apóstolo João, concluindo que outro João, provavelmente, João conhecido como “o Presbítero”,seria o autor desse livro profético. Embora alguns estudiosos ainda hoje sigam o pensamento de Dionísio, a grande maioria dos eruditos e biblistas da atualidade confirmam a autoria do apóstolo João para o livro das “últimas coisas”: o Apocalipse.
Propósitos
 A palavra-chave para o início de uma correta compreensão desta obra encontra-se na abertura da carta: revelação (1.1). Essa é a melhor tradução da expressão grega Apokavluyi"( Apokálypsis) que abre o livro do “Apocalipse” e frequentemente aparece nos textos proféticos do AT da Septuaginta(a primeira e mais importante tradução do AT em grego). Tanto que a edição da Bíblia King James de 1611, e todas as demais em língua inglesa, usam a expressão “revelation” (revelação) como título desse livro de João. A palavra “apocalipse” tornou-se um termo técnico para a igreja primitiva e passou a designar a manifestação gloriosa de Jesus Cristo, o Messias, no final dos tempos (Rm 2.5;8.19; 1ªCo 1.7; 2ªTs 1.7; 1ªPe 1.7,13). Portanto, o “apocalipse” é a “revelação” da pessoa do Senhor Jesus Cristo como o Redentor do mundo e conquistador único e absoluto do Mal em todas as suas formas e expressões. Como na época de João, as autoridades políticas e militares dominantes estavam começando a impor o chamado “culto de adoração ao imperador”, o apóstolo sente a necessidade vital de encorajá-los cristãos a se manterem fiéis e leais a Jesus Cristo, nosso único e supremo Senhor. Por vários motivos, incluindo o cultural (o estilo literário peculiar), o místico (a obra é fruto de uma experiência de êxtase espiritual), e o da segurança (era fundamental que a mensagem chegasse às igrejas sem a censura ou o bloqueio do exército romano). Todo o processo pelo qual o Senhor dará prosseguimento à sua obra redentiva e salvadora de todas as pessoas que nele crerem, está aqui delineado sob símbolos, metáforas e ilustrações diversas. A estrutura dessa obra maravilhosa e fundamental de João está baseada em quatro grandes visões, cada uma delas estrategicamente começando com a expressão “no espírito”, e comunicando ao leitor algum aspecto da pessoa do Messias, Jesus Cristo, e da sua supremacia como Juiz do Universo. Cada visão proporciona uma cena diferente e nos conduz para um degrau superior no processo de revelação total e final da História da humanidade. O livro tem seu início marcado pela visão de cartas endereçadas pelo Senhor a sete igrejas existentes no período apostólico, e que servem como exemplos de igrejas de todas as épocas. Nessas cartas, Deus expressa seus elogios e críticas, concluindo sempre com uma advertência ou conselho e uma promessa.No quarto capítulo, João se sente transferido para as dimensões celestiais, e lhe é concedido o dom de contemplar os grandes eventos mundiais que acontecerão depois de certos sinais (4.1).Por meio de uma série de julgamentos seguidos, porém imprecisos quanto a épocas e duração (os selos, as trombetas e as taças), o planeta Terra e todos os seres vivos serão castigados por causa do pecado humano com sua insaciável perversão e maldade. Então, o grande Dia da ira de Deus, retidopor séculos e séculos, será finalmente inaugurado.Embora não possamos calcular quando nem quanto tempo levará todo esse processo de juízo,o próprio Senhor - por sua misericórdia - se encarregará de abreviar a dor e o sofrimento da raça humana, especialmente dos seus filhos. Nos capítulos dezessete e vinte, somos informados dos detalhes finais dessa dispensação ou tempo histórico. O glorioso retorno de Jesus Cristo a companhado por seus exércitos celestiais (19.11-20), o estabelecimento efetivo e definitivo do Reino de Deus, logo após o processo de julgamento final do Trono Branco (20.1-15) e o início de um novo mundo (21.1-8; 21.9 – 22.5).Contudo, no encerramento deste livro há uma palavra poderosa e alentadora de chamamento à devoção. O alerta é geral: considerando a iminente, triunfal e definitiva volta do Senhor, a santidade e o testemunho são imperiosos na vida de todos aqueles que receberam o maravilhoso dom de crerem Deus Yahweh. O livro termina com uma oração que deveria expressar o santo desejo de todos os crentes:Maranata!(uma transliteração do aramaico) que significa “Amém! Vem Senhor Jesus!”(22.20; 1ªCo 16.22).
Data da primeira publicação
João escreveu o Apocalipse por volta do ano 93 d.C., quando os cristãos estavam começando a viver um dos mais intensos períodos de perseguição religiosa da história; depois do terrível reinado de Nero (54-68 d.C.), e ao final da era de Domiciano (81-96 d.C.). Tito Flávio Domiciano foi filho de Vespasiano. Nascido no ano 51 d.C., na dinastia dos Flávios, começou seu império com sabedoria e elevado carisma popular, mostrou-se hábil administrador. Conquistou diversos povos e terras,inclusive toda a Bretanha. Entretanto, seu autoritarismo sempre crescente fez surgir um regime de extremo terror e repressão que atingiu o povo, a aristocracia, os filósofos, e, principalmente, os pensadores e pregadores judeus e cristãos. Sucumbiu assassinado numa conjuração promovida por seus senadores com a cumplicidade de sua esposa. O apóstolo João, sem citar nomes, faz uma profunda analogia entre a maligna estratégia política de Domiciano e os líderes mundiais despóticos e maquiavélicos de todas as épocas, especialmente com o último anticristo.
Esboço de Apocalipse
1. Prefácio e saudações apostólicas aos crentes em Cristo (1.1-8)
2. Primeira Visão: Cristo e a Igreja (1.9 – 3.22)
A. Representação da presença do Sumo Sacerdote (1.9-20)
B. Mensagens às sete igrejas (2.1 – 3.22)
3. Segunda Visão: Cristo e o mundo (4.1 – 16.21)
A. Adoração universal ao Cordeiro e Rei (4.1 – 5.14)
B. Os sete selos são rompidos (6.1-17; 8.1-5)
C. Os 144.000 selados de Israel (7.1-8)
D. A multidão incontável dos demais salvos (7.9-17)
E. O mistério das sete trombetas (8.6 – 9.21; 11.19)
F. O mistério da medição do Templo (11.1,2)
G. O mistério das duas testemunhas (11.3-14)
4. Os assustadores sinais mundiais (12.1 – 14.20)
A. O sinal da mulher com a coroa de doze estrelas (12.1-16)
B. O sinal do enorme dragão vermelho (12.3-17)
C. Israel gerou um filho que regerá o mundo (12.5,6)
D. A batalha de Miguel, o arcanjo (12.7)
E. A Besta que se levanta do mar (13.1-10)
F. A Besta que se levanta da terra (13.11-18)
5. Cristo, o Cordeiro de Deus, no monte Sião (14.1-5)6. Anúncios especiais dos anjos do Senhor (14.6-20)
7. Os sete anjos derramam as sete taças do juízo (15.1 – 16.21)
A. Os santos entoam hinos de louvor a Deus (15.1-4)
B. Os anjos executam os sete flagelos do juízo (15.5-16.21)
8. Terceira Visão: Cristo e a Vitória absoluta (17.1 – 21.8)
A. A destruição da Babilônia (17.1 – 18.24)
B. A resposta que vem do céu (19.1-10)
C. A prisão de Satanás por mil anos (20.1-6)
D. Grandes conflitos e o juízo final (20.7-15)
E. Nasce o novo céu e a nova terra (21.1-8)
9. Quarta Visão: Cristo e a eternidade (21.9 – 22.5)
A. Nasce uma Nova Jerusalém (21.9-21)
B. A nova vida com o Cordeiro (21.22 – 22.5)
10. Conclusão do Apocalipse (22.6-21)
A. Convocação à obediência imediata (22.6-11)
B. Convocação ao serviço cristão (22.12-15)
C. Convocação ao Amém de Cristo (22.16-20)
D. Bênção apostólica a todos os crentes (22.21).

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